quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Acessibilidade, surdos, comunicação

Ao começar a escrever este texto, lembro-me que vou publicá-lo em meu blog. Como o meu blog é para surdos e ouvintes tenho que ter cuidado ao escrever pois os surdos não tem e não tiveram o mesmo acesso ao vocabulário da língua portuguesa assim como nós ouvintes. Esse cuidado é utilizar um vocabulário menos complexo. Imagine que é o surdo é um estrangeiro que está conversando com você. Ele conhece a língua dele (seja inglês, francês ou libras) e, também conhece algumas palavras em língua portuguesa. Se você entregar a ele um texto de uma revista ou jornal, um livro ou pedir para ele acessar um texto num site da Internet todos com informações em língua portuguesa, ele terá dificuldades de compreender determinadas palavras da língua portuguesa com a qual ainda não teve contato.

O surdo, apesar de não ser um estrangeiro, tem sua língua materna e primeira que é a linguagem de sinais.

Eu estou aprendendo LIBRAS (Lingua Brasileira dos Sinais) há pouco tempo e estou estudando sobre a cultura surda e sobre a linguagem dos surdos também há pouco tempo. Então o que eu estou escrevendo tem base não em estudos ou pesquisas, mas na minha própria experiência com meu irmão surdo.

O meu contato atual é com surdos adultos. Não tenho contato com crianças surdas. Logo, o que eu escrever é para se comunicar com surdos adultos. Acho que com as crianças surdas pode ser diferente. Se você quiser colaborar com alguma informação sobre a comunicação com crianças surdas, eu posso publicar no meu blog.

Então vamos ao que eu aprendi e tenho aprendido sobre a comunicação com os surdos.

Se eu escrever alguma coisa que você surdo ou ouvinte não concordam ou tem uma experiência diferente,  falem comigo.  Ou então, se você tem exemplos, tem experiências e quer também colaborar com a comunicação entre surdos e ouvintes, eu quero muito saber. Publiquem, por favor, o seu comentário ou me escrevam um e-mail.

Comunicação oral
A melhor forma de se comunicar com um surdo é através de Libras. Assim como a melhor forma de se comunicar com um inglês é falar inglês ou se comunicar com um francês é falar em francês. Se vocês são pais, irmãos, familiares, amigos de crianças surdas ou surdos adultos, eu digo: aprendam libras. É muito importante você aprender libras para se comunicar com eles e também com os amigos deles.

Se você não sabe libras, mesmo assim pode se comunicar com um surdo. Você pode falar CALMAMENTE olhando para ele, de forma que ele possa ler os seus lábios. Ele vai acompanhar o movimento de seus lábios e fazer a leitura das palavras através do movimento. Além de falar calmamente, você também deve usar palavras mais simples. Ele pode fazer a leitura labial da palavra, mas se não conhecê-la, ficará sem entender. Então, fale calmamente olhando para ele, use palavras simples e pode falar baixo. :) Não adianta falar alto. Ele não vai escutar.

Agora, a comunicação do surdo com você vai depender dele. Existe também na comunicação com surdos, os classificadores. Os classificadores representam uma característica do objeto ou palavra. Por exemplo, o classificador para puxar uma gaveta é esticar o braço e fazer o gesto com a mão como se estivesse puxando uma gaveta. Para carregar alguma coisa, é... imagine-se carregando alguma coisa, um balde por exemplo. Se você e o surdo fizerem uso de classificadores, vocês também pode ser comunicar.

Além disso, alguns sinais também são fáceis de compreender pois até mesmo, nós, ouvintes utilizados de forma natural. Por exemplo, chorar, acordar, gostar (mão no coração).

E ao se comunicar com um surdo, aproveite para aprender algum sinal!


Comunicação escrita

Como eu já disse, a compreensão da língua portuguesa pelos surdos é diferente da compreensão do ouvinte.

Ao escrever algum texto, é importante ter o cuidado para escrever palavras mais comuns do vocabulário da língua portuguesa. Uma pesquisa científica, um artigo, uma tese, uma dissertação, os textos publicados na web. Os surdos podem ler mas eu acho que eles terão dificuldades em compreender por causa do vocabulário e, também, pela própria característica do texto.

Vejam, por exemplo, o texto que eu estou escrevendo. Eu estou com cuidado para não usar frases complicadas, nem palavras complicadas, pois eu quero que o surdo compreenda o texto. Se eu fosse escrever sem este cuidado, o meu texto seria diferente.

Se publicar na Internet, no seu site ou no blog, um vídeo para um público surdo, se o vídeo não tiver legenda ou tiver a tradução em línguas de sinais, o surdo terá dificuldades em compreender.

Tenho visto publicações na Web que são informações voltadas para acessibilidade de surdos, mas não tem legenda nem em língua portuguesa, nem em língua de sinais. Ou então, são textos complexos.

Se forem realizar alguma pesquisa com os surdos, tenham cuidado também nas perguntas do questionário. Se vocês são estudantes e pesquisadores, devem saber que para fazer uma pesquisa, vocês tem que conhecer as pessoas com quem estão fazendo a pesquisa.

Se vocês querem que o próprio surdo responda o questionário, sejam mais diretos nas perguntas. Mais simples e diretos. Ficar escrevendo muito pode confundir tanto os surdos, quanto ouvintes.

A acessibilidade envolve tanto a compreensão quanto a visibilidade. Por exemplo, um questionário com letras muito pequenas para pessoas idosas. Eles podem não enxergar. Um questionário complexo, todo em preto e branco, para crianças. Elas não vão entender. E nem terão paciência para responder.

Um exemplo prático que já aconteceu comigo e com o meu irmão surdo. Ele já recebeu dois questionários para responder. Os questionários faziam perguntas sobre assuntos de surdez, acessibilidade. Os dois questionários tinham perguntas difíceis de compreender. Algumas, nem eu mesma que já sou professora, estudante, pesquisadora, consegui entender.

Sinceramente, eu não sei qual é o sentimento de uma pessoa surda quando recebe um questionário para responder que fala sobre os surdos, que vai ser utilizado para ajudar os surdos e está numa linguagem difícil que ele não consegue entender.

O surdo pode usar, por exemplo, um dicionário de libras para ajudar a compreender o vocabulário do questionário. Mas vai demorar muito. E no caso do meu irmão, ele recebeu um questionário num dia, para devolver no outro dia.

Além disso, não há sinais para todas as palavras em língua portuguesa. Eu não sei dizer agora quanto sinais existem. Alguém sabe me dizer quantos sinais em Libras já existem? Se não existe sinal, pode ser que o surdo conheça a palavra. Ou então, ela não existe mesmo no vocabulário da LIBRAS.

Então, se você usar uma palavra mais complexa, pode ser que não exista sinal para ela ou que o surdo não a conheça.

Por exemplo, a palavra abstrata já é uma palavra abstrata. Você surdo sabe o que significa abstrato, abstração? Eu procurei agora no dicionário de libras e não achei o sinal. Existe um sinal para a palavra abstrato? Eu ainda não conheço. Você, ouvinte, diria: abstrato é tudo que não é concreto. Será que o surdo vai entender? Também não achei o sinal da palavra concreto.

E agora? Como explicar, através de um texto escrito, o que é abstrato. Abstrato seria o que não se pode pegar com a mão?  As emoções, os sentimentos, as idéias são abstratos. Exemplo de palavras abstratas: sociedade, paz, sabedoria, abster-se, dor (achei os sinais para todas estas palavras no dicionário de libras). Tem muitas outras palavras abstratas. Exemplos de palavras concretas: mesa, caderno, dedo, mãos, carro, rua. Também tem muitas outras palavras concretas.

Vejam que os sinais também podem representar palavras abstratas e concretas.

Neste tempo de convivência com meu irmão (34 anos), eu já consigo, muitas vezes, saber quais palavras ele conhece e quais ele não conhece. Eu sei que se eu passar uma mensagem no celular para ele com determinada palavras, ele pode não conhecer. E foi por isso e, também, por encontrar textos e pesquisas desenvolvidas para ajudar os surdos, mas que não são acessíveis a eles por causa da linguagem.... que eu quis escrever este texto.



com carinho,

Letícia Capelão

Um comentário:

  1. Ola Letícia,
    sou aluna do 6º semestre de licenciatura em computação da faculdade Fortium. estou preparando o meu tcc com o titulo a utilização das tic's como ferramenta e inclusão digital dos deficientes auditivos, apos selecionar o ref. teórico muitos altores falam sobre o sing writing, e tenho que ministrar um curso em uma escola especial... mas não estou conseguindo material em português... gostaria se possivel me ajudasse. ficaria muito grata.
    meu email é iv.one.ara@hotmail.com

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